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Representantes da sociedade civil recebem Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes

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O Governo do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), realizou, nesta quarta-feira (04), a cerimônia de premiação dos homenageados na 19ª edição do Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes. A solenidade aconteceu no Palácio Anchieta, em Vitória.

O Prêmio é concedido anualmente a pessoas ou instituições por suas ações ou ideias que contribuem ou tenham contribuído de forma relevante para a construção de uma nova realidade social.

Os homenageados deste ano foram Luiz Inácio Silva Rocha, conhecido como “Lula Rocha” (in memoriam), Juan Oscar Gatica (in memoriam), Deusdedet Alle Son (in memoriam), Ednéia Cabral da Silva (Mãe Néia) e os projetos coletivos Jovens Guarani (Núcleo Audiovisual Indígena Reikwaapa), Instituto Lagoa Encantada (antigo Fórum DESEA) e o Projeto Pegada.

A secretária de Estado de Direitos Humanos, Nara Borgo, enfatizou a importância do prêmio. “O Prêmio Dom Luís é um momento de muita alegria e inspiração para todos nós. Esta é uma oportunidade de homenagearmos pessoas e instituições que atuam em nossa sociedade e, mesmo diante dos desafios, seguem em busca de uma sociedade mais justa”, salientou.

O prêmio é organizado por uma comissão especial composta por representantes de várias instituições. Representando esta comissão, Maria Elvira Bazet destacou a importância da premiação. “O Prêmio Dom Luís foi criado não apenas para homenagear e parabenizar a memória dele, mas também e, sobretudo, para homenagear e estimular aqueles que aqui no Estado do Espírito Santo lutam por ideais que foram também os ideais e as lutas de Dom Luís”, pontuou Nara Borgo.   

Prêmio

O Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes foi criado pela Lei Estadual nº 7.844, de 25 de agosto de 2004, por iniciativa conjunta do Governo do Estado e do então deputado estadual Claudio Vereza, que integra a Comissão Especial do Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes desde a primeira edição, na qualidade de coordenador.


Conheça os homenageados deste ano:

  

Luiz Inácio Silva Rocha (In memoriam): conhecido como “Lula Rocha”, foi militante dos movimentos negro e de direitos humanos no Espírito Santo.  Foi presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e atuou como coordenador geral do Centro de Apoio aos Direitos Humanos Valdício Barbosa dos Santos (Léo), do Círculo Palmarino e do Fórum da Juventude Negra do Espírito Santo. Incansável na luta antirracista, Lula Rocha era também integrante do colegiado do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Outra importante frente de atuação foi na educação, em especial a luta pela democratização ao acesso do Ensino Superior, tendo coordenado a Rede de Cursinhos AfirmAção. Faleceu em 11 de fevereiro de 2021, aos 36 anos.  

 

Juan Oscar Gatica (In memoriam): argentino naturalizado brasileiro, Oscar Gatica teve importante papel na resistência à ditadura Argentina. Em decorrência da atuação dele, teve dois filhos sequestrados e que foram recuperados adultos, se exilando no Brasil. Um dos fundadores do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), foi atuante no Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra (CDDH). Participou do enfrentamento e desbaratamento do Grupo de Extermínio “Scuderie Detetive Le Cocq” e, por isso, foi perseguido e ameaçado de morte, obrigando-o a se radicar na Paraíba. Participou da formulação e criação do Programa Nacional de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (PROVITA) e foi um dos coordenadores da Campanha Nacional Permanente contra a Tortura. Faleceu em 29 de janeiro de 2021, aos 71 anos.

 

Deusdedet Alle Son (In memoriam): Conhecida como “Detinha Son”, foi importante ativista cultural, cicloativista e educadora ambiental desde os anos 1980. Destaca-se pele participação como conselheira do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, membro da Associação Capixaba de Proteção do Meio Ambiente (Acapema) e da Rede ONGs da Mata Atlântica. Participou da criação do Núcleo de Educação Ambiental do Mosteiro Zen Budista e foi secretária-executiva do Instituto de Pesquisa do Meio Ambiente (Ipema), tendo participado de estudos e oficinas para criação de Unidades de Conservação, com a seleção de cinco áreas prioritárias para conservação no Espírito Santo. Outra frente de atuação e militância importante foi a mobilidade urbana, especialmente voltada para a criação de ciclovias e uso de bicicletas. Fundou a associação Ciclista Urbanos Capixabas e participou da criação da Associação Bike Anjo, além da Escola Bike Anjo (EBA), para ensinar pessoas a andarem de bicicleta. Em reconhecimento da atuação, a Ciclovia da Vida na Terceira Ponte foi denominada pela Lei Estadual nº 11.753/2022 “Ciclovia da Vida Detinha Son”. Faleceu aos 57 anos, em 1º de julho de 2016 em um acidente ciclístico.

  

Ednéia Cabral da Silva. Sergipana de nascimento, Mãe Néia ou Mam'etu Mosoioio Kilunji dia Nzambi tem 78 anos, morou em São Paulo e há 43 anos adotou a Serra, no Espírito Santo, como a terra dela. Zeladora do Nzo Musambu ria Kukuetu ou Barracão de Mãe Néia, casa do candomblé Angola onde atua, Mãe Neia é defensora da diversidade e da sabedoria para trazer a união de todas as nações. No Estado, se tornou uma das referências no combate à intolerância religiosa e na defesa dos direitos humanos. Atuou no Fórum Chico Prego, uma das organizações que lutaram pela restauração das ruínas da Igreja de São José de Queimado, na Serra. Atualmente, está na presidência do Centro Nacional de Africanidades e Resistência Afro-Brasileira no Espírito Santo (CENARAB-ES), que tem como um dos objetivos fortalecer as comunidades tradicionais, impulsionando sua organização. Em função do reconhecimento de sua atuação, Mãe Néia já recebeu, entre outras comendas e medalhas, a Comenda Arautos da Paz, em 2018, concedida pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) e destinada aos defensores da vida e promotores da paz. As suas histórias foram retratadas no documentário curta-metragem Nzo Musambu ria Kukuetu, como parte do projeto "Vitória de todos os santos", contemplado no edital de Pontos de Memória da Secretaria da Cultura (Secult).

  

Projeto Jovens Guarani: O Núcleo Audiovisual Indígena Reikwaapa, que, em Guarani significa “você sabia?”, foi criado para romper com o estereótipo sobre o povo indígena e para mostrar o modo de vida guarani, e contar sobre a realidade, história e cotidiano por eles mesmos. Sediado na aldeia guarani Kaagwy Porã (Nova Esperança), em Aracruz, no litoral norte do Espírito Santo, o projeto vem sendo construído por jovens guarani. Essa é uma experiência que se interliga com um movimento crescente no Brasil nas últimas décadas em que comunidades de diferentes etnias, a partir do acesso a equipamentos e tecnologias, passaram a produzir vídeos que retratando suas realidades, visões de mundo, histórias e outros elementos de seu interesse. O Núcleo Audiovisual Indígena Reikwaapa tem suas origens na produção do curta-metragem Reikwaapa, realizado em 2013, em codireção do cineasta Ricardo Sá com Marcelo Guarani (Werá Djekupé), atualmente cacique da aldeia Kaagwy Porã. Depois de quase uma década, foi aprovado um novo projeto para a produção de uma websérie com novos capítulos da Reikwaapa. A websérie foi patrocinada por meio do edital de Cultura Digital, lançado pelo Governo no Estado, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), com recursos federais oriundos da Lei Aldir Blanc.  

  

Lagoa Encantada: A Lagoa Encantada é uma Área de Preservação Permanente, situada em uma área conhecida como Areal do Vale Encantado, em Vila Velha. Apresenta uma rica biodiversidade e exerce papel fundamental no equilíbrio de todo seu ecossistema. Tem uma área de 1.194.804.85 metros quadrados e fica entre os bairros Vale Encantado, Jardim do Vale, Santa Clara, Rio Marinho, Jardim Marilândia e Rodovias Darly Santos e Carlos Lindemberg. Abrange a nascente do Rio Aribiri, fragmentos importantes de Mata Atlântica, Restinga e Manguezal e espécies ameaçadas de extinção, como o Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). Trata-se de uma importante área para o ecoturístico, espaço utilizado para a observação de aves, inclusive as raras como o tricolino e o socoí-amarelo. O Fórum de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental do Grande Vale Encantado (DESEA) é uma das entidades que luta pela proteção legal da Lagoa Encantada e seus alagados. O grupo se reveza na vigília e fiscalização, combatendo incêndios, denunciando crimes ambientais que ocorrem periodicamente como tentativa de descaracterização ambiental para exploração insustentável de seus atributos ecológicos. Desde 2012, é realizada a Caminhada Ecológica anual, bem como eventos e mutirões de limpeza e outros voltados para a sensibilização do poder público e da sociedade em geral para a necessidade urgente de conservação da biodiversidade local.

 

Projeto Pegada: Surgiu em 2014, depois de os fundadores Renata Machado e Rafael Braga começarem a recolher os lixos que encontravam no mar enquanto remavam no stand up paddle. Criaram um grupo em uma rede social para incentivar o recolhimento de lixo nas praias e, atualmente, conta com mais de 320 voluntários. O projeto promove a limpeza de praias, parques, mangues e busca a conscientização das pessoas sobre o meio ambiente para que elas possam transformar essas ações coletivas em hábito individuais. Além do recolhimento de lixo das praias, também realizam atividades de limpeza de pichação de áreas naturais e denunciando as redes de pesca ilegal. Busca desenvolver um relacionamento entre pessoas e meio ambiente para que os únicos rastros nas praias sejam “pegadas” e não destruição ambiental. O Projeto Pegada conta com quatro barcos para suas ações, sendo parceiro da fiscalização ambiental a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) e outras instituições ligadas ao meio ambiente.