Educação
Prefeitura de Aracruz extingue projeto de xadrez que formava campeões no esporte
A educação de Aracruz vem sofrendo uma enorme perda nos últimos dias com o triste anúncio do fim do projeto “Mentes que Brilham”, que vinha sendo oferecido a estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Ezequiel Fraga Rocha”. A notícia causou um choque nas famílias dos estudantes e foi muito discutida na sessão da Câmara Municipal, na última terça feira (13), sensibilizando vereadores que, em vão, tentaram reverter a situação.
Na quarta feira (14), alguns deles foram recebidos pela secretária de educação Acácia Gleci do Amaral Teixeira para discutir o assunto. Participaram da reunião os vereadores Fabio Machado, Fabio Neto, Mônica de Souza, Beto Vieira, Paulo Neres e Alexandre Manhães, além de um assessor do vereador Paim, pais de alunos e o professor Alessandro Camporez, responsável pelo desenvolvimento do projeto.
Todos argumentaram e apresentaram sugestões, porém, segundo o professor, a secretária foi irredutível mantendo a decisão de dar fim ao projeto de grande sucesso na formação de campeões e na melhoria do aprendizado escolar dos estudantes em sala de aula.
O projeto vinha dando bons frutos e segundo Camporez, vinte e cinco de seus alunos participam do Campeonato Estadual de Xadrez.
O “Mentes que Brilham” é responsável pela formação de campeões estaduais de xadrez. Emily Pereira da Rocha, por exemplo, é campeã capixaba na categoria infantil. Aos 11 anos, ela conquistou o titulo competindo com adversários de 12, 13 e 14 anos.
Luander Monteiro, de 15 anos, é campeão capixaba na categoria até 17 anos. Por esse feito, ele irá representar o Espírito Santo, e conseqüentemente Aracruz , nos Jogos Escolares da Juventude, que serão disputados em Londrina, no período de 12 a 21 de novembro. O fim do projeto, no entanto, pode prejudicar a sua preparação.
Outro grande destaque do projeto é Fernanda Júlia de Barros, 15 anos. Ela é a atual campeã estadual de xadrez e recebe R$ 300,00 por mês, do programa “Bolsa Atleta Municipal". Com o fim do projeto, a estudante perderá o direito ao benefício a partir do próximo ano.
No atual campeonato estadual, dos 15 melhores xadrezistas do Espírito Santo, 12 são do projeto que agora deixa de existir em Aracruz. Com isso, eles não poderão disputar as etapas finais a serem disputadas em Domingos Martins e Colatina e, após tanto esforço, perderão a oportunidade de realizar o sonho de conquistar o título capixaba de 2015.
Nem todo esse sucesso e as perdas anunciadas para os estudantes foram suficientes para sensibilizar a secretária de educação e fazê-la mudar de idéia. A decisão de interromper o sonho das crianças foi mantida na reunião de quarta feira.
Xadrez eleva nível da educação em Santa Maria de Jetibá
O jogo de xadrez, que para muitos não passa de uma brincadeira inútil e sem graça, foi o responsável por uma drástica mudança nos rumos da educação no Município de Santa Maria de Jetibá, região serrana do Espírito Santo.
Em 2015, o Município foi pontuado com nota 3,2 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica –Ideb, abaixo da nota do Estado (4,2) e da nota nacional (3,6), na época.
Disposto a mudar o rumo da educação, o Município criou, em 2007, uma lei que introduziu o xadrez nas escolas municipais, com apenas uma hora de prática semanal. Em menos seis anos, o quadro educacional no Município se transformou. Em 2013, a nota de Santa Maria de Jetibá, no Ideb, saltou para 6,0 superando as avaliações estadual e nacional. A meta do Governo Federal para o Município era atingir 4,3 em 2013 e 5,5 em 2021, ambas já superadas em 2013.
Em Aracruz projeto merecia ser ampliado
Em Aracruz, o projeto “Mentes que Brilham” mostra mais uma vez que o xadrez pode ser a fórmula de estimular o aprendizado e o prazer pelos estudos, porém em vez de seguir o exemplo de Santa Maria de Jetibá, o Município segue na contramão do que é evidente e, se não voltar atrás, poderá estar interrompendo, não um desejo de crianças, mas um avanço significativo na educação.
Com isso, a atual administração poderá ficar com a responsabilidade de quem acabou com um projeto iniciado em 2007 (mesmo ano da implantação do amplo projeto em Santa Maria de Jetibá) e que apesar dos ótimos resultados, não foi levado aos demais estudantes do Município. Ao invés disso, o fim do poderá significar um retrocesso educacional.
De acordo com o que foi falando por vereadores, durante a última sessão da câmara, a justificativa da Secretaria Municipal de Educação para a extinção do projeto, seria a contenção de despesas. Em contato com o professor Alessandro Camporez, nossa reportagem foi informada de que a única despesa da prefeitura com o projeto é o pagamento de seu salário que é de pouco mais de R$ 2 mil, por mês e que a economia, até o final do ano, giraria em torno de R$ 6 mil.
Camporez chegou a abrir mão de 50% de seu vencimento para que as crianças não fossem prejudicadas, mas nem esse gesto nobre salvou o sonho das crianças.
“Para mim, não é uma questão de dinheiro. Penso nas crianças e luto para resgatar e salvar o projeto. Hoje tive a maior decepção da minha vida por ter um reconhecimento internacional e não ser reconhecido no meu Município”, disse o professor, que por cinco vezes foi técnico da seleção capixaba de xadrez e também foi vice-campeão brasileiro como técnico.
Entramos em contato com a prefeitura a través da assessoria de comunicação, mas não obtivemos resposta.