Meio Ambiente

Pescadores de Linhares vão processar Samarco por não terem como trabalhar

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Apesar de toda a tristeza que podia ser vista nos olhos de cada um, pescadores de Linhares se reuniram na manhã desta quinta feira (19) para resgatar espécies nativas no Rio Doce antes da chegada da lama tóxica. A captura dos peixes faz parte do projeto Arca de Noé, que visa criar um banco de extinção de animais nativos. O objetivo é capturar a maior variedade possível de espécies. Os exemplares ficarão em tanques por conta do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper até que o Rio Doce tenha condição de recebê-los novamente. A quantidade de peixes, não é o que importa para o projeto.

“Já pegamos alguns peixes que gostaríamos de soltá-los para viverem na lagoa, mas os coordenadores do projeto não concordaram e como já tínhamos capturado outros iguais, aqueles foram soltos para esperar a morte” lamentou um pescador.

O trabalho, que prossegue até o dia em que a lama tóxica chegar, ocorre sob a orientação do Ibama e conta ainda com técnicos do Instituto Federal do Espírito Santo – IFES/Piuma e Samarco.

O presidente da Colônia dos Pescadores Z6, Milton Jorge, afirmou que os profissionais foram convidados pelo IFES para ajudarem no trabalho e que não teve qualquer contato com ninguém da Samarco, empresa proprietária das duas barragens que se romperam em Mariana - MG, no último dia 05 de novembro e por isso, não sabe ainda qual é a participação da mineradora nesse trabalho e se haverá remuneração para os pescadores.

Milton se disse preocupado com a situação dos profissionais que agora, provavelmente, não poderão exercer a profissão com a qual sustentam suas famílias há anos. Para que os pescadores não fiquem desamparados após o final do mês de fevereiro, quando termina o defeso, época em que os peixes se reproduzem e que a pesca é proibida, a Colônia Z6 já contratou advogados para agilizarem uma ação contra a Samarco, cobrando que a empresa se responsabilize pelos salários dos pescadores. Ainda segundo Milton, são aproximadamente 800 profissionais que não terão de onde tirar o sustento das famílias já que o rio levará muito tempo para se recuperar e os peixes do litoral que não morrerem provavelmente serão contaminados.

“Nenhum pescador tira menos de R$ 2000,00 por mês e queremos que empresa assuma essa responsabilidade. Já estamos fazendo o levantamento exato do número de profissionais e no máximo dia 15 de dezembro queremos estar com tudo pronto para a ação”, declarou Milton Jorge.

Durante o período de defeso, todos os pescadores cadastrados recebem do Governo Federal, um salário mínimo para ajudar nas despesas da casa, porém após o mês de fevereiro os pescadores não sabem como ficará a situação.

Enquanto isso, em vez de ficar esperando o tempo passar, aproximadamente 15 pescadores estão se dedicando ao salvamento de algumas espécies como se estivessem se despedindo do manancial. O que fica no ar é a incerteza de quando voltarão e se um dia voltarão a pescar no Rio Doce. A expectativa é que a lama tóxica passe por Linhares neste sábado e chegue ao litoral entre domingo e segunda feira.